Aí vem em mim uma dose de encanto junto de uma melancolia, de um reconhecimento da decadência que passa despercebida. Eu me pergunto “onde estou?” e “que lugar é este?”, aí dou por mim e percebo o quanto é difícil sair.
É uma desconstrução dos significados; é sexo sem amor; é estupro; é o aterramento de uma vala para encobrir a profundidade. O abacaxi, vindo de longe, passa, passa por toda a cidade, como um turista, como um terrorista escondido sob a lona, a ponto de explodir. Passaria despercebido não fosse o alto-falante que denuncia, que clama, que chama. Aí as formigas aparecem ansiosas por açúcar. As pessoas e seus baldes. Zumbis de um sol nordestino que putrefaz com mais facilidade toda e qualquer carne.
Do fundo de uma gaveta qualquer saem as Tele Senas esquecidas. Mais esquecido ainda o sonho de tornar-se milionário, de conhecer o homem do baú. Com a desconstrução de significados, o título de capitalização passa a ter valor pecuniário e o abacaxi, outrora apenas metafórico, passa a ser literal.
Desta maneira a transação é realizada. Pessoas felizes com seus baldes transbordando abacaxis; vendedor exibindo seu dente de ouro, contente pelo dia não ter ido por água abaixo.
Vem a faca carrasca desapossando o rei abacaxi e renegando seu item mais nobre, a coroa. É por isso que todos permanecem súditos, dependentes de suas amareladas Tele Senas. Falta-lhes atenção aos detalhes.
2 comentários:
Só vc pra ter a explicação dessas coisas! Arrazou!
Arrasou sempre me parece tão gay, haha. Mas obrigado!
Postar um comentário