segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Jesus Gordo

Voltando pra casa, vi um gordo vestido com uma camiseta estampada com Jesus Cristo. A malha esticada fez Jesus parecer disforme, parecer obeso. No restante do caminho, só pude pensar em uma coisa: um Jesus frequentador de fast-foods. O que de alguma forma intrigou minha mente foi o fato de já ter visto Jesus retratado das mais diversas maneiras. Já cogitaram um Jesus negro, Elton John já falou que Jesus era um “gay superinteligente”, já vi Jesus pai de família, Jesus armado até os dentes numa revista em quadrinhos, porém, acima do peso, nunca vi. Combatendo o pecado da gula o salvador sempre foi mostrado a nós de forma atlética, com um corpo em forma. Mas tendo um personal trainer feito Judas, é bem provável que um dia a balança fosse quebrar. Será que sendo gordo Jesus passaria pela caverna onde seu corpo foi depositado ou então faria envergar a cruz na qual foi crucificado? Sei não, mas a Santa Ceia parece um tanto calórica.

domingo, 16 de outubro de 2011

MINIATURAS #15

Triste mesmo é quando você esquece de fechar o tupperware e os biscoitos ficam molenguinhos, molenguinhos.

domingo, 18 de setembro de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

MINIATURAS #14

A fé dele era tão duradoura que o copo com água em cima da TV desenvolveu larvas do mosquito aedes aegypti.

sábado, 9 de julho de 2011

MINIATURAS #13

Liguei a TV pra tentar ver, o rádio pra tentar escutar, folheei uma revista tentando ler, mas tudo estava fora do ar, e eu sem ar.

terça-feira, 14 de junho de 2011

sábado, 4 de junho de 2011

MINIATURAS 11#

Passou por uma cirurgia de mudança de sexo só pra poder fazer parte da plateia do Silvio Santos.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

GESSO

Gesso, será que eu mereço
esse gesso?
Preço, qual será o preço
de duas semanas?
Teço, teorias da conspiração
enquanto meu pé não toca o chão.
Meu amor, vem colocar cor
no meu gesso. Por enquanto eu padeço.
Tempestade em copo d'água.
Lembrei que não posso molhar nada,
nem o gesso.
Rabugento, eu mesmo não me aguento.
Só o gesso pra me imobilizar.
Perna, tu tens razão em ter torcido
para torcer-se, pois minha paciência
há muito andava fraturada.

domingo, 24 de abril de 2011

BEM

A cada cacho que vejo,
Acho que é como se visse
Um riacho.
A cada cacho que vejo,
acho que velejo em
teus braços.
A cada cacho que vejo,
sinto que em ti eu me encaixo.
Teu hálito torna-se hábito.
Tua risada, sinfonia.
Teus olhos, noite e dia.
A cada cacho que vejo, penso
sempre haver mais um pra ver.
Cada cacho é um dever de enxergar.
Cada beijo é um dever de conhecer.
E, a cada momento,
cacheiam-se argumentos afirmando
“perca-se sob o pescoço dela, pois
tudo nela é uma vívida e mutante
aquarela”.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

TRANSIÇÃO

De cá pra lá,
de lá pra cá,
sempre numa eterna mudança.
Sempre encaixotando
alguma empoeirada esperança.
Distâncias tão pequenas,
mas que parecem exorbitantes.
A paciência serena de preencher
novamente as estantes.
Não pise, sou frágil.
Vire pra cima.
Apesar de todas as instruções,
sempre chega algo quebrado.
Apesar de todos os remendos,
o que é remendado agora
é outro estado.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

MINIATURAS #7

A gente pode apanhar muito na vida, contanto que o coração continue batendo mais forte.

sábado, 22 de janeiro de 2011

MINIATURAS #6

Código captcha da vida: oftalmotorrinolaringologista.

É, acertar de primeira não é fácil não.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

MINIATURAS #5

Queria logo ir de volta para o futuro, porque é melhor do que ficar caçando fantasmas do passado.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

DREAM, DREAM

Os verdadeiros sonhos,
tão belos e difíceis de
alcançar, flutuam sobre
nossas cabeças.
Eles são luzes neon,
escapam pelos dedos,
incorpóreos, secretos.
Os verdadeiros sonhos
têm lábios e olhos
como os seus; têm
fases e crateras como
a lua.
Sonhos doces que não
enjoam o paladar.
Um açúcar eterno,
cristalino, alvo, reluzente.
Sei não, acho que esses
sonhos vivem
somente no coração.

sábado, 8 de janeiro de 2011

NÃO FUI EU

Ando pensando
em deixar esse EU
meu dar uma volta,
respirar um ar, viajar.
E eu fico sentando,
olhando, curioso.
Para onde o EU vai?
E sabem por quê?
Porque EU vem com peso.
É cimento-vocábulo-concreto.
Um peso nas costas, procuro
livrar-me.
Vai eu, anda, deixa esse corpo
teu que vive de aperto na garganta.

LANÇA

Vontade de um dia
escovar os dentes com comida.
Vontade de um dia
acordar dormindo.
Vontade de um dia
sintonizar uma estação de rádio na cabeça.
Vontade de um dia
trocar os braços pelas pernas.
Vontade de um dia
ser verde clorofila.
Vontade de um dia
gravitar.
Vontade de um dia
cavar um túnel até o Japão.
Vontade de um dia
saber se virar do avesso
é melhor do que permanecer
-atravessado-.

SÓ UMA ELA

Elas são todos os aromas.
Elas vivem por aí, com seus
cabelos esvoaçantes, com seus
cílios falantes, com seus
lábios arquejantes, suas
peles resplandecentes.
E todas elas, todas elas,
enxergam na minha poesia
uma beleza distante, desconexa
das mãos do escritor.
Elas enxergam em mim o
recém-nascido do casulo,
escondido sob os óculos,
sob a barba.
Armadura que eu mesmo
construí. Soldada, blindada,
quase intransponível, repelente.
Armadura que ninguém habita.
Armadura que sou eu, por
ser assim.
Mas espero que, nesse crivo
demente haja fendas, e que
em uma delas passe gente.
E que, algumas delas, sejam elas.
Seja ela, corrigindo-me.
Acredito na monogamia, no
casamento e em canções de amor,
por mais ridículo que isso for.
Acredito nela, e para ela,
minhas perturbações serão charme.
Minhas críticas serão espertas.
Minha descrença será uma forma
alternativa de amor à vida.
E nela, os cabelos serão o próprio
vento. As manchas e sinais serão
meu mapa. O hálito será o frescor
da vida.
Nós, eu e ela, seremos cobertores,
um do outro. Nós seremos televisores
dessincronizáveis. Porque com vocês
outros, não há, e penso que nunca
haverá nenhuma ligação.
Então aguardo por ela, numa calçada,
sob a chuva que borra tudo.
Aguardo de guarda-chuva aberto.

À mãe dos meus filhos. Assine
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