sábado, 21 de agosto de 2010

Profundidade


As pessoas me desorganizam
mais do que eu posso me organizar.
E, apesar de sermos bípedes, não
caminhamos juntos.
Cada vez menos eu vejo semelhança
entre meus semelhantes.
Não enxergo asas e nem quem
queira voar.
Não enxergo ideias, pensamentos
e reflexões aeroplanas.
Ninguém mais pé no chão.
Todos na lama.
Ninguém mais cabeça nas nuvens.
Todos despencando delas.
Quando meus olhos insistem,
só querem de volta alguém
para sonhar junto. Alguém que
veja uma coerente semelhança
não resumida à superfície.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A VIDA PARA UMA BARATA É CARA


Às vezes a gente assiste nos programas de TV quadros que mostram exemplos de superação. Ora é o paratleta sem pernas e braços que, mesmo assim, disputa o salto com vara, ora é a garota de 15 anos sobrevivente de uma leucemia, um atropelamento de caminhão e um tiro de fuzil AR-15. O que ninguém vê são baratas ilustrando quadros desse tipo. Porém, são elas o exemplo perfeito do que é espírito de sobrevivência. Afinal, você nunca verá um ser humano rastejando por aí com seu intestino do lado de fora nem vivendo por uma semana após ser decapitado – e quando acontece isso com a dona barata, ela morre de sede, mas é porque ainda não descobriu o canudinho.

Elas não mudaram muito sua aparência em milhões de anos. Enquanto os dinossauros tomavam porrada de asteroides na cabeça, as baratas desfrutavam de sombra e água fresca, vendo tudo acontecer como num grande espetáculo pirotécnico.

Esses insetos, alvos do mais profundo asco dos seres humanos - principalmente por parte das mulheres - são extremamente ousados e fazem uso até de psicologia inversa para confundir seus algozes. Todo ser, ao sentir-se acuado, corre, corre o mais rápido e para mais longe que puder do perigo. As baratas, filhas da puta que são, investem contra você, vão direto na sua direção, acuam seus pés, enquanto se segura o chinelo com a mão.

Baratas já foram estrelas de filmes de terror, de comédia e ganham cada vez mais espaço no coração e nas vulvas das raquíticas atrizes pornôs nipônicas. Elas estão por todos os lugares, por todos os espaços, frestas, buraquinhos e vãos. Elas são capazes de digerir celulose, de abocanhar seus livros e suas memórias. Não importa o quão sujo, o quão limpo, o quão pobre, o quão rico você seja, sempre haverá uma barata na espreita.

Talvez a insistência das baratas em se proliferar e continuar vivas – o que nos tira do sério -, seja a lição que faltava para aquelas pessoas não mais capazes de se consternar com exemplos humanos. Tenha a barata como referencial. Cada obstáculo percorrido é um tubo de Baygon vencido.

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