sexta-feira, 29 de outubro de 2010

CARTA

A princípio, o amor gravita
sem destinatário.
Porém, ao passar do horário,
o amor fica solitário.
Odeio deixá-lo por aí, cabisbaixo,
sem saber aonde ir, mas o amor,
vez ou outra, tem mesmo de partir.
E vez ou outra, quando parte de
qualquer jeito, o amor extravia,
chega com defeito.
Amor não tem rastreamento, é
postado no escuro e tem de vencer
os cães pelo muro.
O que eu posto, vai mesmo
sem selo, porque, para sê-lo,
não pode identificar-se nem
limitar-se.
Meu amor, que pode ser
caneta falhada e folha amassada,
só chega quando não mais
tem paradeiro, e encontra,
desprevenido, seu coração
por primeiro.

AUTORRETRATO


Photobucket

Tanto concreto faz com
que nada seja concreto.
Debaixo do caos que entulha
e que cobre, como se descobre?
Mão tremida sobre o papel,
tentando um autorretrato.
Não se parece. Não
desenho meu boato.
Impossível é se
fazer como se é.
Quem sou?
A soma de todos os meus
tempos ou subtração do
passado com resultado
presente?

sábado, 9 de outubro de 2010

POESIA

Poesia só se acha quando
a gente se perde.
E a vida inerte, tudo contra,
é aí que a poesia se encontra.
Poesia é o grito constante
que eu contenho. Cada
poema é um pouco que se grita,
e o alívio no cenho.

LISTA

Comprei um cachorro. Mentira.
É que minha cabeça vira lata
pra reciclar o tempo.
Hoje saio com a namorada. Mentira.
É que quando lhe falta uma parte,
programa a dois é matemática exata.
Encontrei meu caminho. Mentira.
É que quando eu rio, apenas não quero
dizer que o trecho é obra constante.
O fim é mentira, e nem raio x
diz o que me faz feliz.
E não me venha com Pão de Açúcar,
porque a vida não é doce.

FILME

Fico lendo os créditos,
esperando the end até
que algo comece.
Transformo os protagonistas
em cenário e trago os
figurantes pro primeiro plano.
Quando todos nós somos um
poço de diversidade, alguns
de nós temos de conviver
para sempre com a superfície.